Com muito orgulho, publicarei artigos e histórias que falam da luta do povo catalão pelo direito à autodeterminação e à independência.
Esta luta é uma das mais bonitas e ao mesmo tempo mais sofridas do momento atual.
Neste post publicarei, com autorização expressa, uma tradução do editorial "De Ancara a Barcelona: proibições e respostas", publicado originalmente no diário digital Vilaweb, da Catalunha.
O texto brilhante dispensa maiores explicações.
De Ancara a Barcelona: proibições
e respostas
Vicent Partal
“E ontem
também, quando passavam poucos minutos das duas da tarde, dezenas de pessoas
foram se aproximando pouco a pouco, em pequenos grupos, do círculo que havíamos
desenhado na frente do departamento, em torno de um artefato muito perigoso: um
microfone.”
No ano de
1997, a fundação alemã Heinrich Böll me convidou para fazer uma conferência na
capital turca, Ancara. O objetivo era que um grupo de jornalistas europeus fizesse
pressão em defesa da liberdade de expressão, realizando atos simultâneos em
vários lugares.
Quando
chegamos ao local onde estava prevista a realização da conferência, ficamos
sabendo que o governo a proibira. A polícia estava na porta e não deixava
entrar o público, formado principalmente por jornalistas.
Eu, naturalmente,
estava pronto para fazer o que fosse necessário. A mim, isoladamente, o máximo
que podiam fazer era expulsar do país, de modo que resolvi perguntar aos
organizadores o que eu precisava dizer; eles então me informaram que não havia
nenhum inconveniente em transformar a minha conferência, que em princípio seria
mais ou menos acadêmica, num ato reivindicatório.
Por fim, a
conferência acabou acontecendo na sede da União de Arquitetos, com o público sendo
avisado na base do boca-a-boca e a polícia sem tempo de reagir. Voltei para
casa muito contente por ter ajudado os valentes companheiros turcos que lutavam
pela democracia e confiei que aquela excursão acabaria se convertendo numa
anedota que, com o passar dos anos, seria completamente esquecida, até mesmo
por mim.
Acontece que
ontem me lembrei muito dela. Pensava nela enquanto seguia em direção àquela
esquina de Barcelona onde se encontra o Departamento do Interior. Pensava nela
porque, 21 anos depois, eu acabaria por fazer, de novo, uma conferência
proibida. A Assembleia em Defesa das Instituições Catalãs (ADIC) do Departamento
do Interior me convidara, há algumas semanas, para falar sobre as implicações
do Ato 155 - como eu já havia feito, com muita satisfação, a pedido de diversos
outros departamentos do Governo.
Anteontem,
porém, os organizadores haviam me avisado que a conferência no Departamento do Interior
tinha sido proibida de repente. E eu reagi exatamente como há 21 anos, em Ancara;
perguntei a eles o que queriam que eu fizesse. Pois me propuseram fazer a
conferência ali mesmo, na rua – e eu aceitei. É claro que, dessa vez, também
não fiz a conferência que planejara originalmente. E uma multidão – fato surpreendente para mim
e muito reconfortante para os organizadores – se reuniu naquele ato de desafio
à proibição e de afirmação democrática.
Há 21 anos,
em Ancara, um grupo de jornalistas e de cidadãos valentes desafiou todas as
pressões. E foi daquela viagem que nasceram iniciativas como a Bianet, que há
décadas luta pela liberdade de expressão e de imprensa em primeira linha – os primeiros
dentre os primeiros.
E ontem
também, quando passavam poucos minutos das duas da tarde, dezenas de pessoas foram
se aproximando pouco a pouco, em pequenos grupos, do círculo que havíamos
desenhado na frente do departamento, em torno de um artefato muito perigoso: um
microfone. Era gente do próprio departamento que descia, gente de outras ADICs
e vizinhos solidários também.
Comecei minha
fala dizendo a todos que aquele era um ato estranho, mas que estávamos dispostos
a fazer tantas coisas estranhas quantas fossem necessárias para conseguir a
vitória.
E, assim como
fiz em Ankara, falei pensando na vitória da liberdade de expressão, da liberdade
de informação e da democracia. Além do mais, por estar em Barcelona, disse-o
sobretudo pensando na vitória da autodeterminação, da independência, da
República e de um Estado novo e digno para todos.
As proibições
geram sempre respostas – e isso já deveriam saber aqueles, aqui e ali, que nos
queriam ver mudos, calados e quietos. Caso não saibam, faremos questão de lembrá-los
sempre que for preciso.
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