sexta-feira, julho 13, 2012

E de tudo Flip um pouco...

 Fonte: www.flip.org.br



Com certeza, o amado Drummond me perdoará por parafraseá-lo, após cinco belos dias de sol e de saudades revividas da sua poesia, da presença e do  bom humor discretamente disfarçado. Mas é verdade: não há como passar por uma Flip, sobretudo por esta, sem guardar na alma os resíduos vários - a alma das ruas, a alma dependurada nos poemas, em voz alta e em vozes outras, soltos pela festa, dançados pelas crianças, espalhados em cartões postais. A décima Flip só poderia, mesmo, ser drummoniana, embora a moda vigente no local fosse dizer "drummondiana". Gosto mais à antiga, do jeito que se falava no tempo em que conversávamos sobre rimas e soluções.
Mas todos os poetas te fizeram jus, caro Carlos, assim como quase todos os ensaístas e teóricos que trataram da tua vida e obra em uma festa que decerto te agradaria. Convidado, talvez não viesses, tu que eras tão cioso dos teus enigmas e que, no entanto, tantas vezes espiava pelas frestas do espírito e das coisas com o maior sorriso maroto, aquele que ninguém te creditaria. Afinal, é tão mais fácil crer que eras assim ou assado, não?
Vendo teu retrato de pijama, óculos na mão, olhar sabe-se lá onde, envolvido pelo piano que pontuava as leituras da tua poesia, quis dar um rewind no cassete do tempo, sem mais tecnologias, para ouvir tuas piadas de novo. Olha, muitas vezes quase consegui. No mais, foi o abraço constante de teus poemas que me passeou pelas ruas de pedra rolada, como se um anjo torto quisesse me ensinar como afagar tua ausência em redondilhas de memória.
Nesta Flip que foi tua, e tão amplamente partilhada, tive vontade de voltar contigo à Livraria Leonardo Da Vinci ou à Casa Cavé. Melhor: em Paraty, acho que preferirias um sorvete na beira do rio, ou simplesmente largar-se no rumo do mar, da maré que escoa entre as pedras quase toda manhã. Como de tudo fica um pouco, ficam de ti as palavras e o riso contido, o olhar de nunca-jamais e o jeito sério-fingido com que me falavas da vida além de si mesma. Nesta Flip, após anos, ficou absurdamente claro o quanto da tua ternura, feita soneto, mar e maresia, ainda transborda dentro de mim.