Mireia Boya e Tamara Carrasco
“Desde ontem que não tiro teu nome da cabeça”,
carta de Mireia Boya a Tamara Carrasco
Carta da ex-deputada da CUP MIreia Boya a Tamara Carrasco, a mulher do
CDR de Viladecans detida pela Guarda Civil espanhola
Estimada
Tamara,
Não nos
conhecemos pessoalmente. Eu mesma nunca estive em Viladecans, a tua cidade mas
desde ontem que não tiro teu nome da cabeça. E quero dizer isso bem alto,
repetir até não poder mais, até cair exausta se for preciso, porque hoje foi
você a pessoa sequestrada por este regime infame, mas amanhã pode ser qualquer
outra. E o grito é porque você é mulher e valente, pelo companheirismo, pelo
compromisso, pela denúncia pública e pelo convencimento de que a República pode
ser um lugar pelo qual vale a pena viver.
Tamara Carrasco, a dignitária
mais combativa do Baixo Llobregat, lutadora pelos direitos e liberdades de
todos em cada letra do teu nome. Que ninguém tente inviabilizar-te, nem
desumanizar-te ocultando teu nome e reduzindo-te a uma titular anônima. Que os
carniceiros não produzam sangue com o teu sofrimento. Tu és nós – e nós, daqui
de fora, somos tu, porque todos somos Comitês de Defesa da República.
Cabeça muito
bem erguida diante dos carcereiros, punho cerrado perante a inquisição. Pensa
que tu representas mais de dois milhões de pessoas. Pessoas como tu, que naquele
1º de outubro, defendiam o direito de votar, que naquele 3 de outubro protestavam
contra a violência policial, e que, dia após dia, em cada ação, exigiam a
liberdade dos presos políticos e gritavam bem alto contra a vulnerabilização
dos direitos fundamentais. Tu não estás só e jamais estarás.
Os desmandos continuam.
Aquele regime podre, corrupto e violento nos está roubando a nossa gente – a gente
dos bairros, dos povoados e das cidades que se movimentam. A gente dos
movimentos auto-organizados, a gente da rua que batalha. Nos CDR ninguém manda,
porque todos querem mandar nas nossas vidas. E não sabem que, quanto mais eles fizerem,
mais nós faremos, porque não nascemos para renunciar a nada. Porque cortar uma
flor – hoje, tu – não vai deter a primavera catalã.
Com certeza mil pensamentos
passam por sua cabeça, com relação aos teus entres queridos, e com certeza
terás mil perguntas sem resposta com relação ao teu futuro. Não te preocupes. O
“cuidemo-nos” não é apenas um slogan; é uma filosofia de vida que aplicamos 24
horas por dia. Estaremos com teus pais e amigos. E estaremos porque a unidade
diante da repressão não é só necessária; é também a nossa força. Esperamos que
essa unidade desperte mais e mais pessoas para te acompanhar, para denunciar
tudo que estão fazendo contigo.
Vamos dar um basta ao fascismo
de uma vez por todas. Chega da impunidade da extrema direita, que governa
engravatada e pronuncia sentenças nos seus tribunais. Ontem fez 25 anos que
assassinaram Guillem Aquilló; e por ti, também, não há nem esquecimento, nem
perdão por cada minuto que te privam da tão sonhada liberdade. E a luta
continua até a vitória, sempre, até que possamos te tirar daquela cela onde te
trancaram, até que voltes para casa e, aí sim, possas me mostrar tua amada
Viladecans.
Terroristas
são eles. Terrorismo de estado, como se diz. Se eles ganham, perdemos todos. O
protesto não violento, a desobediência civil, não são delitos e jamais podem
ser. E que eles não pensem que vamos parar; estamos decididos a não nos curvarmos
nunca mais. Agora nós nos levantamos. Resistimos – e resistiremos. Orgulho de
todos aqueles que, como tu, são CDR. A nossa força é coletiva. A derrota deles
está em querer nos individualizar. Somos o poder popular.
Lembre-se:
estaremos todos diante do juiz e dentro da cela, até que tu sejas libertada.
Sinta o nosso alento junto ao teu. Isso te sustentará nessas horas difíceis.
Milhões
de abraços,
Mireia
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