domingo, setembro 25, 2005

Curtas de domingo

Apolônio de Carvalho

No momento da despedida, emocionam as lembranças do velho comunista, um dos poucos heróis sinceros cuja memória podemos evocar sem medo de errar. Alguém que lutou pela justiça acima de tudo, acima até mesmo da própria nacionalidade. E que acreditou, com vontade, até o fim. História feita apenas de beleza, verdade e um amor muito grande. Gostaria de tê-lo conhecido além das páginas da história, mas de todo modo reverencio sua memória com a gratidão de ter, como brasileira, um exemplo de coerência a respeitar.

As histórias de seu desassombro e ternura, seu eterno romance com a francesa Renée, que o seguiu ao Brasil para a vida inteira, o carinho dos dois filhos, que souberam seguir-lhe o exemplo, a reverência de um país inteiro nos instantes finais - discreta e profunda como foi a sua vida - nos mostram que dar a vida pelo sonho e pela fé nos homens, como ele, valeram (e muito!) a pena.

Estrada de terra para o Oscar

"O Quatrilho" é um excelente filme sob todos os aspectos. "Central do Brasil" é um dos grandes filmes brasileiros de todos os tempos.
Ambos concorreram ao Oscar. Ambos perderam para filmes menos talentosos.
"Dois filhos de Francisco" é um bom filme, mas sobretudo uma das maiores bilheterias do cinema nacional. Só isso já diz algo sobre ele - que, apesar do sucesso e do marketing pesado, em nenhum aspecto se compara, de longe sequer, aos dois filmes citados acima.
E foi escolhido por uma comissão para representar o Brasil na corrida dos filmes estrangeiros por uma vaga no Oscar.
Agora, é esperar para ver qual a matéria que pavimenta a estrada para a Academia: os lucros, um regionalismo que pode passar por exótico ou a qualidade das produções. Se for uma das duas primeiras, pode ser que passe.
O cinema brasileiro já esteve melhor na foto, quer dizer, na película...

"Arigó", do Rio à Índia

Cinema de animação feito no Brasil, por brasileiros, e com tempero de novos talentos revelados é uma raridade nesses tempos de mídia. Pois este é o caso do curta "Arigó", produção de sete minutos realizado pela Usina de Cinema do FanCine, organização não-governamental fundada em Volta Redonda.
"Arigó" é o nome de uma ave de arribação bem brasileira. É também o apelido, entre carinhoso e pejorativo, dado aos peões de trecho que construíram a CSN, em Volta Redonda, em plena Segunda Guerra. Daí o nome do curta, escolhido por unanimidade pelo próprio time de criadores.
O projeto foi resultado de uma grande parceria que envolveu o Fundo Nacional de Cultura, a Coordenadoria de Educação do Médio Paraíba 2, o FanCine e a prefeitura da cidade. Além do filme, um estudo cartográfico e antropológico amarra as origens de Volta Redonda aos fatos mais marcantes de sua história. Tudo na produção foi obra e graça dos jovens artistas, assistidos por um time de profissionais da pesada.
Essa história toda saiu da cabeça e do coração de Fatita Celes, cinéfila e curadora de festivais internacionais, que fundou o FanCine para pôr uma câmera na mão de gente talentosa.
"Arigó" será exibido no Festival do Rio no dia 30 de setembro, com direito a debate com a turma de realizadores. Em novembro, brilha no 14º Festival Internacional de Filmes Infanto-Juvenis, em Hyderabad, na Índia. A coroação perfeita para um vôo de sucesso que passou pela 8ª Mostra de Cinema de Tiradentes, a competitiva do CINE PE 2005 (Festival de Audiovisual de Pernambuco), o Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte e a Mostra Infanto-juvenil de Florianópolis, só para citar os convites deste ano.
"Arigó" é um santo de casa que, sem mídia ou ações mirabolantes de marketing, está fazendo milagres importantes por aí.
Atenção, pessoal da animação: fiquem de olho em Volta Redonda. Lá tem gente aprontando com a maior qualidade!

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