sábado, junho 25, 2005

Aventura literária digna de histórias de cavalaria

Desde o início de julho que estou vivendo uma verdadeira jornada do herói para garantir um lugar nas 20 mesas literárias programadas para a FLIP deste ano, em Parati.
É estranho; nem mesmo Dom Amadis de Gaula, o bom cavaleiro português, entenderia como ingressos desaparecem em minutos, na velocidade da Internet, por mais diligente, ágil e interessado que seja o internauta literário.
No dia 4 de junho, quando os ingressos para a cobiçadíssima Tenda dos Autores foram disponibilizados para venda, tudo - absolutamente tudo! - se esgotou em menos de duas horas. No entanto, ao longo da semana seguinte, voltou a haver disponibilidade para algumas mesas. Paciente, eu entrava todos os dias para ver se aparecia alguma coisa e, nesse pinga-pinga, consegui a inacreditável proeza de comprar ingressos para 16 das 20 mesas. Ficaram faltando,claro,as mais disputadas: MVBill/Luiz Eduardo Soares, Salman Rushdie, Ariano Suassuna e Jô Soares.
Na manhã de hoje, sábado, entrei no site às 9:40 da manhã e - maravilha! - vi que estavam à venda os ingressos para a Tenda da Matriz, com a inacreditável oferta de 1.400 novos lugares para cada sessão, além do show de abertura com o amado Paulinho da Viola e da homenagem a Clarice Lispector.
Pois clico na primeira mesa que me falta, a 10, e começa a decepção: não há disponibilidade de entradas inteiras. Só meia - privilégio a que, infelizmente, não tenho direito. Telefono para o 0300 das Americanas para tentar descobrir por que não há entradas e fico sabendo que acabou! Em menos de uma hora!
Estarreço-me: como é que pode? Estarei condenada a me contorcer na fila de entrada, sem esperança de ouvir o que esses quatro grandes têm a dizer?
O que me consola é um único talvez: pode ser que as Lojas Americanas estejam guardando ingressos para liberar em doses homeopáticas, a cada dia. Foi assim que consegui meus 16, e pode ser que, nos próximos dias, consiga também os 4 que me faltam.
Como esperança é a última que morre, certamente estarei online todas as manhãs, tentando preencher essas importantes lacunas no cardápio de minha FLIP 2005.

Críticas à parte...

... gostei de experimentar a FLIP 2004. Foi um bom mergulho, uma agradável exposição a rios, mares e cascatas de conhecimento, discursos instigantes e desafiadores, momentos de grande emoção até. Um balcão improvisado e democrático garantia a compra de ingressos dos desistentes sem qualquer ágio, o café era um espaço franqueado igualmente a mortais e imortais, o frenesi causado pela presença de Chico Buarque foi um capítulo (aliás divertidíssimo) à parte. Eu só fazia entrar e sair das tendas, sem tempo para me dedicar às belezas de Parati, mas valeu a pena. Meu espírito se multiplicou pelas calçadas de pedra rolada, quebrada e pontuda, pelas paredes seculares e pelo abandono das igrejas e da maior parte do conjunto arquitetônico. A FLIP cutucou, com vara curta, o germe literário adormecido, que se alimentava de passado e passou a correr atrás do futuro. Por isso, quero estar lá este ano de corpo e alma, todos os dias, para beber de tudo um pouco e seguir o meu destino com as palavras.

De aposentar-se

Tomei a decisão que, mais dia, menos dia, quase todo mundo precisa tomar: requeri, e consegui, a aposentadoria por tempo de serviço. Trinta anos completos e redondos de atividade, contribuições ao INSS pelo teto permitido, documentos na mais perfeita ordem, procurei o posto da previdência que funciona dentro da minha empresa e dei entrada. Doze dias depois, recebo a informação de que me foi concedido um benefício de - pasmem! - R$ 1.396,77. Choque, susto, pane. O INSS alega que o teto hoje é R$ 2.400,00, mas eu só vou receber 60% disso. Investigo e descubro que o "fator previdenciário" - depreciativo índice que o órgão inventou para não pagar a ninguém o suposto teto - foi o vilão da minha história. Aos 49 anos, tenho (nos cálculos deles) uma expectativa de vida de mais 29 anos, e por isso devo receber menos! A julgar pelo rigor dos critérios, só uma pessoa com 99 anos de idade receberia os R$ 2.400,00 com os quais o governo acena para recompensar vidas inteiras de dedicação à construção de um país.
Aposentar-se no Brasil, constatei na pele com tristeza, é uma porta de entrada para a indignidade, o desrespeito e a exclusão. Precisamos de um novo olhar para com tantos velhinhos que vemos trabalhando aqui e ali, em tarefas aparentemente menores e muitas vezes pesadas demais para eles. Precisamos enxergar nessas pessoas o retrato de um país que desvaloriza e desmerece o trabalho, a paixão, o interesse de seus filhos pelo crescimento e pela sociedade em si. Porque o INSS, historicamente um campeão de fraudes de toda sorte, é o responsável pelo destino de todos esses seres humanos que vêm sendo privados do direito de sobreviver dignamente. O mesmo INSS paga régias aposentadorias integrais a um sem-número de privilegiados, afilhados, apadrinhados, políticos ou ex-políticos. Mas não tem qualquer interesse nos idosos que padecem e morrem nas filas dos hospitais, nem nos vendedores ambulantes, vigias noturnos ou serventes de obras que se multiplicam a cada ano, todos acima dos 60 anos de idade. O mesmíssimo INSS cujas contas nunca batem, e que freqüenta repetidamente as manchetes dos jornais e noticiários, em função dos desatinos administrativos e roubos recorrentes.
No momento em que vivemos essa imensa crise de credibilidade do aparelho político-partidário, das instituições políticas,legislativas e da justiça, vale a reflexão. Tenho um velho amigo, experiente e viajado, que costuma dizer que corrupção existe em todos os países do mundo; no entanto, naqueles países onde os problemas básicos da subsistência estão resolvidos - ou seja, ninguém passa fome, sede ou frio, todos conseguem sobreviver com seu salário, os aposentados inclusive - esse problema pode ser tolerado. Num país como o Brasil, esmagado pela fome, miséria, violência e outras mazelas, corrupção seria, no mínimo, caso de paredão.
Em que luta estamos, desde um tempo em que podíamos diferenciar esquerda de direita? Qual a paixão que pode nos mover hoje, quando as grandes cidades são reféns do crime organizado e os cidadãos, reféns das quadrilhas que emanam do Planalto? Não conseguimos sequer comemorar a vitória de um sujeito como Lula, com um passado respeitável de lutas e compromissos. Não podemos nos engajar na reconstrução brasileira, se não sabemos para onde vai o dinheiro público, farto e generoso para tantos Robertos Jefferson, e extremamente avarento para com um aposentado idoso, que depende do INSS para, mal e mal, sobreviver.
A sociedade civil precisa tomar as rédeas e cuidar de seus problemas, para encontrar uma saída que nos permita reencontrar o respeito por nós mesmos.
Hoje está difícil. E segunda-feira ninguém sabe o que será!

Diversidade, respeito e alegria

A Parada Gay do Rio é amanhã, e eu não estou lá para ver. Que pena! Apesar do que há de politicamente correto na recentemente adotada sigla GBLT - Gays, Bissexuais, Lésbicas e Transgêneros - toda a gente chama, mesmo, de Parada Gay o evento que comemora, simplesmente, a liberdade de ser o que quiser. Liberdade, aliás, que todo cidadão deveria ter e aproveitar, independentemente de sua história sexual.
O prazer dessa liberdade é poder festejar a alegria e o direito dos outros, ainda que isso não nos afete diretamente, com o mesmo entusiasmo. Uma Avenida Atlântica repleta de famílias e pessoas de todas as tendências vai se colorir de uma euforia muito especial. Afinal, liberdade é liberdade, e é pra todo mundo, não? Como eu posso ser livre, ou achar que sou livre, se alguém é privado de sua liberdade por ser homossexual, por ser comunista, por ser ateu, por ser qualquer coisa? Está aí o segredo do Orgulho Gay: é um sentimento que contagia porque envolve a coragem de ser. E quantos de nós exercitam adequadamente essa coragem?
A maravilha do ser humano é justamente a sua diversidade, a capacidade de mudar e crescer a todo momento, e de se transformar também. E todos nós somos um pouco tudo e nada. Valores como caráter, princípios, generosidade, dedicação ao próximo, são o que temos a legar em nossa passagem. Sexualidade não é valor, é opção pessoal e circunscrita ao universo pessoal de cada um. Por isso, e cada vez mais, vale ir às ruas para prestigiar, e comemorar, o Orgulho Gay como se comemora um aniversário, o diploma da faculdade, o nascimento de alguém. Por isso é tão bom estar na Avenida Atlântica num belo dia de junho como amanhã, para aplaudir a liberdade que, gloriosa, toma as ruas com todo o seu vigor, charme e carisma, "gay" ou "straight".

Um comentário:

Maurette disse...
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