quarta-feira, junho 01, 2005

Afinal, vem à tona o Garganta Profunda

Quem se lembra do dia-a-dia do caso Watergate - parece que foi outro dia mesmo! - e acompanhou com ansiedade o desenrolar do caso que levou um presidente norte-americano às portas do impeachment adorou conhecer o rosto daquela que foi, seguramente, a mais secreta fonte da história do jornalismo.

W. Mark Felt, hoje aposentado, era o segundo homem do FBI no governo Richard Nixon. Foi ele quem municiou os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do jornal The Washington Post, com as informações que acabaram por comprovar o envolvimento do Comitê para a Reeleição do Presidente com espionagem e fraudes que obrigaram Nixon a apresentar sua renúncia, antes que fosse atingido pelo impeachment. E a revelação foi feita por ele mesmo, aos 91 anos, à revista Vanity Fair.

Woodward e Bernstein confirmaram. Ben Bradlee, ex-editor do Post, revelou-se espantado por ter o segredo durado tanto tempo. A história entrou para os anais do jornalismo, virou um excelente livro e um ótimo filme, estrelado por Dustin Hoffmann e Robert Redford. Trouxe lições, instituiu boas práticas, deu um lustro de respeito ao jornalismo investigativo de qualidade.

Conheci Deep Throat esta manhã, ao abrir o jornal; um sorridente senhor de 91 anos acena para os repórteres na matéria de capa, com a filha sorrindo ao fundo. Aliás, as declarações desta sugerem claramente um benefício financeiro resultante da declaração do pai, suficiente até para "pagar os gastos com a educação" dos filhos dela. É a única nota a lamentar de um fato tão marcante por seu lado politicamente correto, de defesa da democracia, combate à impunidade e coragem de demonstrar que a Casa Branca não é, afinal, nenhum Olimpo - e nem o era nos idos de 1974, quando financiava os golpes de direita no nosso combalido Terceiro Mundo. E Bill Clinton era apenas um inflamado jovem em campanha contra a guerra do Vietnã.

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