quarta-feira, agosto 03, 2005

Contro-versos

(da série "Tratado das Letras de Parati", sobre a Mesa 2 - Coro dos contrários)

Poema nem de longe inunda a sala,
resvala com algum escândalo
por espaço mínimo,
senta-se para conversar,
mas sem muito ânimo.
Muitos esperam, suspiram
e até conspiram,
mas poema quer nem saber.

Um aplauso mediado se anuncia
mas não eclode,
enquanto a voz do cais
fala em referências.

(Não ouço a música das palavras
no espaço suspenso
onde agora poderiam brincar.)

A moça loura com olhos de boneca
se esvai

pretenso jogo de desdém

e encolhe o verso.

Apenas resta
um bravo navegante
a singrar ventos de Macau
com música, música, sim,
de palavras! Que começam
a chegar de roldão,
e belas, e cheias,
e plenas, enfim,
ocupando o tempo
como vastos véus
de algodão recém-tecido.

(Poema abre um olho só,
mas fecha depressa
e se recosta,
fingindo dormir.)

No espaço escorrido
do tempo quase frustrado
as palavras não se vestem
da festa pretentida.

Poema talvez desejasse voar,
mas de que jeito?
Melhor puxar a cortina,
se houvesse uma,
e dançar
nas pedras da rua.

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