quarta-feira, outubro 22, 2014

FIDA 21: Valores da Terra cada vez melhores

Sou FIDA de carteirinha desde 2003 - e me orgulho disso.
Cheguei a Belém e a esse festival incrível pelas mãos de Fábio de Mello, em seu primeiro ano como diretor artístico do evento. Assim conheci Clara Pinto e sua verdadeira saga para criar um fluxo regular e anual de apresentações de dança para Belém. O FIDA já recebeu alguns dos maiores artistas do Brasil e do mundo, além de professores que trazem na bagagem o que há de mais atual em termos de técnica e interpretação, proporcionando uma troca saudável e positiva, que se traduz em crescimento para os artistas da terra e para os que chegam.
Ontem, na estreia do FIDA 21 - sim, são 21 anos de dança e arte em Belém, sim,senhores - tive o prazer de participar do júri de um prêmio que me é muito querido, o "Valores da Terra", destinado aos grupos do Pará. Nesses vários anos é palpável o crescimento desses artistas, que se atualizaram e vêm construindo um trabalho consistente e rico, sem perder de vista os valores culturais locais, mas agregando a modernidade e a evolução. Neoclássico, gospel, contemporâneo, dança do ventre, rap, dança-teatro, folclore... vários estilos ocuparam o palco com força, talento e vontade. Gente, vontade faz toda a diferença quando se trata de driblar as dificuldades e fazer a dança acontecer.
Ontem, no FIDA, foi uma alegria ver grupos como o Dançart,de Marituba, apresentar criações absolutamente modernas, vivas, com forte conteúdo de pesquisa e uma busca genuína por inovar e expandir o talento de seus componentes. O mesmo vale para o grupo Ribalta, de Ananindeua, com a obra "Confissões": pesquisa, inovação, uso criativo do espaço, dos figurinos e dos próprios corpos dos bailarinos como elementos cênicos. "Windos", do Grupo Dança e Arte, foi uma inovadora surpresa no fértil terreno do rap, hip-hop, passinho... sei lá, de tudo um pouco. Satirizando a tecnologia e ao mesmo tempo reconhecendo seu papel essencial na vida de hoje, a coreografia iluminou com alegria o palco, com bailarinos de excelente técnica e grande vivacidade. Um grande sopro de vento novo. Mas as surpresas não pararam por aí: o grupo Free Dance, de Belém, trouxe ainda mais novidade e alegria para "desconstruir" o espaço do palco com graça e talento, numa grande homenagem à arte da mímica. O figurino recriava com humor e delicadeza o personagem Carlitos, de Charlie Chaplin, mas evocava Marcel Marceaux e outros grandes artistas que transformaram o mundo num lugar melhor com sua reinterpretação do ser humano comum. Em suma, a dança cresce no Pará - e o FIDA é sem dúvida a grande vitrine para se ver isso tudo.
Destaque para a emoção sempre renovada de ver a Cia. Palavras em Movimento, de Soure, para provar que dançar é algo que está no espírito e se transfere para o corpo com alegria e beleza, em qualquer época da vida. Parabéns à turma de Soure, que sempre nos traz o folclore paraense com emoção e beleza! Presença obrigatória e imperdível!

Convidados emocionam

Este ano, Carlinhos de Jesus e Vanessa Nascimento resolveram dançar na plateia. Ninguém esperava, mas todo mundo adorou. Os bailarinos fizeram seus próprios caminhos entre as cadeiras, num verdadeiro baile dedicado a homenagear quem estava sentado. Houve de tudo: beijos, suspiros e até Carlinhos no colo de uma sorridente senhora. Grande carinho dos artistas para com o público de Belém, recebido com alegria e muitos aplausos.

Cícero Gomes e Karen Mesquita, primeiros bailarinos da geração recente do Municipal do Rio, estão entre os artistas mais brilhantes do momento. Técnica, rigor, profissionalismo e a chama viva do talento são marcas dos dois excelentes bailarinos, que fizeram o palco do Theatro da Paz "arder" com o grand pas-de-deux de Chamas de Paris. Cícero, o vigor em pessoa, eletrizou a plateia com seus célebres saltos e uma postura em cena que o coloca em igualdade absoluta de condições com os maiores artistas do ballet em nível mundial. Karen Mesquita, com uma presença cênica arrebatadora e técnica impecável, não fica atrás: a química entre os dois é inegável e contagiante. Essa geração jovem do ballet brasileiro sem dúvida merecia e merece dançar muito, dançar mais, e realizar-se num arte que fazem tão bem, com tanto despojamento e gosto. É a verdade da arte, algo que não pode morrer sufocada por rotinas ou regras. Em suma, bailarino tem mais é que dançar, como Cícero e Karen fazem como ninguém. Bravo pra eles!  Mas o FIDA continua e os dois dançam ainda hoje, amanhã e no sábado. Quem quiser, verá.

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