segunda-feira, outubro 27, 2014

FIDA 21 - Direto de Portugal, a dança em máximo quilate

Filipa de Castro e Carlos Pinillos
Foto: Divulgação CNB - Portugal

Por Maurette Brandt

Filipa de Castro e Carlos Pinillos são bailarinos principais da Companhia Nacional de Bailados de Lisboa, Portugal. Os dois estiveram em Belém pela primeira vez como atrações internacionais do FIDA 21. Simpáticos, acessíveis e super profissionais, integraram-se logo ao grupo de artistas e convidados. No trabalho, muita disciplina e concentração.
No palco, um choque de felicidade, para dizer o mínimo.
A primeira apresentação da dupla aconteceu na quinta-feira, 23, e tirou o fôlego da plateia logo de cara. Vent, coreografia de Carlos Pinillos para música original de Mário Franco, também artista da CNB, trata das constantes explosões que acontecem na superfície do Sol, em pequenas crateras que os cientistas batizaram com o nome de vent. Bem, isto me explicou Carlos Pinillo após a apresentação, lançando ainda mais luz sobre o primoroso trabalho. A concepção original projeta, no ciclorama, imagens das próprias explosões, amplificando o efeito já eletrizante da coreografia absolutamente precisa, de movimentos habilmente articulados e exaustivamente pesquisados. Infelizmente não foi possível usar a projeção no Theatro da Paz, onde o fundo negro e o ciclorama se alternaram, mas ainda assim o impacto foi muito forte.
Nada é comum em Vent. Cada movimento se acopla à música de maneira quase simbiótica e conduz a uma série de pequenos clímax que vão precipitando o espectador numa jornada quase compulsiva. A gente não sabe direito o que nos move além da própria beleza do traçado coreográfico, mas é impossível nos desgarrarmos dos dois, absolutamente sincrônicos, intérpretes até a medula, perfeitos tecnicamente. E não há qualquer distinção entre Filipa e Carlos: os dois são grandes artistas, carismáticos e de uma limpeza técnica invejável, além da química perfeita em cena. O figurino despojado, em tons escuros e transparência sobre matizes alaranjados, cabe perfeitamente no contexto. 
Vent é um trabalho habilmente lapidado e depurado, que demonstra ser possível produzir-se algo novo, e com muita beleza, na área do movimento. Fiquei completamente sem ar. E tenho certeza de que a plateia do FIDA também se extasiou, pois ninguém queria deixar Filipa e Carlos saírem do palco: os aplausos foram muitos e bem compridos.
Sorte nossa que ainda iríamos vê-los em cena mais duas vezes.

Dom Quixote

Engraçado, depois de ver um trabalho absolutamente especial como Vent, que honestamente não sei enquadrar em um estilo definido, foi surpreendente e renovador assistir ao grand pas-de-deux de Dom Quixote, interpretado por Filipa e Carlos. Com toda sinceridade, foi o mais perfeito que já tive a oportunidade de assistir, em todos esses anos. Mas a perfeição não é o ingrediente principal da interpretação dos artistas: a intensidade, o estilo, a coqueteria e o glamour fizeram toda a diferença. Filipa de Castro é uma Kitry sem afetação, senhora de si, coquete e muito elegante, enquanto Carlos, na pele de Basilio, exibe porte, categoria e uma certa ternura.  Irretocáveis nas variações, os bailarinos nos devolvem a um tempo de verdadeiro glamour no ballet, com movimentos grandes, presença cênica e uma ocupação excepcional do palco. Sem nada de novo, tudo é novo, fresco e nunca visto no Dom Quixote de Filipa de Castro e Carlos Pinillos no palco do magnífico Theatro da Paz. Os aplausos retumbantes do público estão nos meus ouvidos até agora.

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