quinta-feira, julho 13, 2006

Quem é vivo sempre aparece

Apesar do lapso - quase 10 meses! - a parte viva de mim está feliz em reencontrar, reassumir esse espaço com boas palavras e idéias. Não é que elas - as palavras e as idéias - tenham arrefecido nesse tempo; não, muito ao contrário. O que pesou foi, como disse Ruy Guerra no histórico Calabar, é que há distância entre intenção e gesto. Uma vez encurtado esse caminho, cá estou eu de volta ao ciberespaço com gestos prontos a materializar a intenção de sempre: informar, discutir, criar, traduzir sonhos, manter viva e acesa a chama do espírito jornalístico.

Reencontros

Naquilo que tem de melhor - a democracia do espaço e a rapidez da informação - a Internet pode ser um presente de fato. Nesse particular, tenho sido agraciada ultimamente com muitas alegrias.

Nos idos de 1974, participei de um programa de intercâmbio chamado AFS (American Field Service), que me deu a chance de morar por 11 meses nos EUA e aprender muito, mas especíalmente três coisas: falar inglês, me virar sozinha e dar muito, mas muito valor à amizade.

Éramos muitos, uns 170 ou mais, do Brasil inteiro. Todos muito jovens, entre 16 e 18 anos, e muita vontade de ver qual era. Quase sem lenço e sem documento; só sabíamos, de fato, que íamos viver como uma família e, supostamente, ser tratados como filhos na casa. Ah, e também freqüentaríamos a escola por lá.

E assim foi; ganhamos irmãos, pais novos, muitas vezes avós - e professores, colegas, namorados. Discos e livros e muito mais. Passamos sufôco, solidão, saudade, sentimentos de inadequação, grandes alegrias, muito aprendizado.

Hoje, 31 anos depois, a Turma do AFS do ano letivo 74-75 (é, lá o "ano" é diferente) está de volta, todos de novo entre 16 e 18 anos na alma, num grupo do Yahoo que está virando a cabeça, dando palpitação, frio na barriga, vontade de rir e chorar, ansiedade louca para ver qual o próximo nome que foi "achado" na rede.

Alguns já conseguiram se encontrar: a turma de Porto Alegre, a de Belo Horizonte, a de São Paulo... outros ainda suspiram pelo "ao vivo", mas se escrevem e telefonam, na esperança de diminuir a distância imposta, física...

Mas no coração estão juntinhos, com as mesmas roupas, cabelos e sonhos. Igualzinho antigamente, parece que foi ontem, é tudo muito verdadeiro, sincero, inocente mesmo.

No que tem de melhor, a Internet está sendo salvadora e essencial na vida de toda essa gente - da qual faço parte desde que tomei aquele avião fretado das Aerolíneas Argentinas, com aeromoças rabugentas, que parecíam velhíssimas por trás de tanta maquiagem e sorrisos de plástico.

Hoje, quando abro meus emails, não consigo deixar de pensar em como a tecnologia pode, às vezes, guardar algo de divino sob sua capa aparentemente mecânica.

Mas as surpresas da web têm sido ainda maiores. Um belo dia, um lindo dia, estava eu a abrir o Outlook quando vejo, assim do nada, um email que dizia: Azul! Azul! Azul! Achei você!

Na assinatura, Vera Matagueira.

Juro que, se não estivesse sentada, desmaiaria de verdade. E voltei 20 anos no tempo - dessa vez um outro tempo, a época da faculdade de Comunicação em Botafogo, no Rio.

Estudávamos na célebre Facha (Faculdade Hélio Alonso). Nossa turma começou em agosto de 78 e, desde o primeiro período, um grupinho acabou se juntando. Vera Lúcia Lima Matagueira era uma jovem extremamente crítica e animada, de profundos óculos, sempre pronta a contestar e a participar de vários modos. Filha de portugueses, morava no bairro, assim como eu: vivia numa ruazinha que desemboca na Rua da Passagem, e eu, numa vila bem no começo da São Clemente.

Estávamos sempre juntas num grupo que incluia também Ana Lígia, Virgínia, Nilcéia, Astênio, Marquinho e outros. Todo mundo trabalhava de dia em outras coisas. A Vera era uma das únicas que já estava em agência de publicidade; eu, Ana e Virgínia éramos secretárias; Nilcéia trabalhava na saúde e os meninos, em escritório. Quase ninguém estava ainda perto do sonho de tornar-se jornalista, mas era como se fosse; íamos a tudo quanto era debate, assinávamos todo tipo de manifesto, arriscávamo-nos nas cordas bambas da reta final da ditadura militar, desabridos como todo jovem idealista diante de um perigo tentador.

Uma dia Vera, quem diria, apaixonou-se... e resolveu emigrar pra Portugal. Lá foi ela com sua energia, alegria, inteligência e sonhos, muitos sonhos de artista e de mulher. Ficamos todos na torcida, pensando em quando poderíamos cruzar o tanto mar pra visitá-la. Um tempo depois, tristeza e apreensão: alguns castelos por lá desmoronaram, e a amiga deprimia-se. Preocupados, tentávamos consolá-la, mas por telefone ou carta fica sempre mais difícil. Chegamos a pensar em trazê-la de volta fazendo uma vaquinha, mas, com nossos parcos recursos, não conseguimos. A preocupação, o carinho e as cartas continuaram por um bom tempo. Depois, um certo silêncio acabou se instalando.

Lá um dia... AZUL! Chegou a primeira carta boa, claros ventos de Lisboa, uma luz no fim do túnel. Vera rompeu de vez com a tristeza, arranjou um bom emprego, aprumou-se na vida e na alma - e venceu na terrinha! Alegria geral. Por um bom tempo nos escrevemos, telefonamos... mas a rotina e a loucura são inexoráveis, acabam separando as pessoas.

Até que... bem, o resto vocês sabem. O coração está mais azul porque Vera me achou na rede. Com a facilidade e a rapidez do email, estamos juntas quase todo dia. Mesmo com tanto mar pela frente.

2 comentários:

Zamby disse...

Preciso reencontrar vera. Não a vejo desde 1984 e sinto imensa saudades dela. Por favor quem puder ajudar. meu e-mail é rzamby@gmail.com. Muito obrigado a quem nos colocar em contato.
Beijos no coração.

Zambrano

Unknown disse...

Estudei com a Vera Lucia, em 73, no Colégio Pedro II, tenho tentado achá-la, mas está meio complicado. Se tiveres o E-mail ou site de relacionamentos dela, ficaria muito grata se me informasse. Beijos
Eliete ( Piti )