segunda-feira, julho 05, 2010

Quero falar de uma coisa...


Foto: Abstract flowers 1 by Float

Meu coração de estudante desperta, com disposição, de profundas e variadas ausências. E acorda as palavras deste blog, que parecia estar de luto por Mercedes Sosa até hoje, mas não, não estava. Entre um grande amor e uma viagem, fotografias irremediavelmente engolidas por um backup entregue na portaria e que jamais chegou ao dono, pressões da sobrevivência, desenganos, crises, sonhos e projetos, aporto novamente aqui. Se terei sempre palavras, não sei dizer ainda. Mas prefiro acreditar em um post atrás do outro, sem rígidas imposições a mim mesma. Que escrever salva, para mim é mais que um fato científico. O que espero é ter vontade de me salvar todos os dias aqui, com pequenas construções em forma de ideias, poesia, argamassa. Com o coração cheio de empenho e revolta, como diria Lluís Llach, sem jamais desistir.
Hoje, cinco de julho, às dez da manhã, eu já amargava três horas e quarenta de pé, na fila de compra dos ingressos da Festa Literária Internacional de Paraty - que, em anos de copa do mundo, muda-se do início de julho para o início de agosto. Para amenizar a dor nas pernas e nos calcanhares, tremiliques compassados de pernas, semelhantes aos que fazem os jogadores de futebol para se aquecer, já em campo, pouco antes da partida começar. Particularmente penosa, a compra este ano. Madruga-se numa fila e esgotam-se muitos ingressos antes da quarta pessoa (que era eu) chegar ao guichê. Reconheço que a compra de ingressos para a Flip é um problema insolúvel. Ou se é patrono, com o desembolso de somas elevadas, ou é isso. Nenhum fornecedor novo (a organização troca todo ano) consegue solucionar o problema de haver apenas 850 lugares na Sala dos Autores, onde nós, mortais, temos a chance de ver de perto muitos daqueles que preenchem as páginas dos livros da nossa vida. Mas há um prazer secreto em constatar que, em terras tupiniquins, os ingressos para um evento literário desaparecem nos primeiros dias da venda. Só queria não sofrer tanto para tentar comprá-los...
Tempo firme, céu azul, sol e mar, névoa seca, temperatura amena. Inverno bom, discreto. Tem gente que até vai à praia... limito-me a contemplar e escutar as ondas a segredarem espuma. E ver o meu velho Carlos (Drummond) eternamente sentado, encolhidinho como era o seu jeito, num banquinho do Posto Seis, fascinando todo mundo.
Ontem, a visita habitual de Ricardo, do blog Tertúlias, via skype, no meio da tarde. Ricardo representa o que amo na internet: a possibilidade de grandes encontros ou reencontros, a ponte entre as ausências.
Hoje, um tênue retorno a este cenário de palavras.
Que ele se intensifique a cada dia é o meu mais ávido desejo.

4 comentários:

SombrArredia disse...

Podes nao ter "grandes" palavras,mas vais ter sempre leitores a rondar por este espaço..e que saudades já habitavam em ler-te
:)

Bem vinda de volta

"
Em quanto houver estrada pra andar
A gente vai continuar
"

As Tertulías disse...

Que maravilha... como dizia a música? "I went alway from the lights of 14th street... and into my personal haze... but now that I'm back in the lights of 14th street... tomorrow will be brighter than the good old days...". Bom ter-te aqui de novo! Nos de estes presentes lindos... sempre!

Vera Matagueira disse...

Que bom voltar a postar... parece que este está a ser o grande Hannus Horribilis... Mas é isto... temos que continuar à procura da ansiada primavera! Bjo. Vera

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Oi, Maurette!

Menina, você escreve tão bem! É uma delícia ler seus textos.

Fico triste por saber que você não pôde estar presente fisicamente na Feira desse ano. Porém, sei que você aproveitou-a em sua casa, pertinho do Drummond, e certamente a aproveitou muito mais que uma porção de gente que conseguiu comprar ingresso para a badalada (sobretudo comercialmente badalada, que pena) tenda dos artistas.

Bjinhos. Volte para o Blogger sempre!
Dani