segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Filmes, filmes para uma cidade

É fácil dizer que Tiradentes, em Minas Gerais, é tão bonita que daria um filme. A exuberância e o calor desse cenário a céu aberto, talhado na pedra lascada que sobe ladeiras atrás de ladeiras, emoldurado pelo conjunto colonial recortado em branco e tons naturais contra uma imponente e protetora Serra de São José, são de fato para sonhar e eternizar.
Mas Tiradentes não é cidade de um filme só. Mesmo não tendo um cinema sequer. Quando chega janeiro - e isso já há dez anos - todos os filmes são para ela, rainha escolhida a dedo para sediar a Mostra de Cinema de Tiradentes, uma espécie de paraíso democrático do filme nacional, seja ele longa, curta ou vídeoarte, e do livre debate sobre tudo aqulo que realmente interessa, quando o assunto é cinema.
São dez dias descompassados, quando o coração escorrega mil vezes pelas ladeiras, entre o Centro Cultural Yves Alves, onde se acende o debate, o Cine-Tenda - um enorme e irresistível escurinho que remete aos cinemões que alimentavam a infância da gente, e onde se exibe a maior parte dos filmes - e o Cine-Praça, que faz a alegria do povo sempre que as chuvas o permitem. Isso sem falar nas inúmeras oficinas que se multiplicam atrás de portas fechadas, inconfidentes, delirantes - e muito, muito profissionais.
Livre e colorida, descompromissada com sucessos pontuais e entregue à sua vastidão e diversidade, a Mostra é uma festa. E para combinar com a mineirice do cenário, sempre começa e termina com um cortejo - nada menos que o célebre bloco, para quem é de carnaval - cheio de paixão, fantasias, bandinha, malabaristas, perna-de-pau, bonecos cheirando a Olinda e muita, muita batucada para fazer tremerem as pedras da história.
No recheio, a qualidade absoluta da programação, o compromisso em democratizar a produção do ano - todos podem ter tudo de graça - e a profundidade com que se discute cinema o tempo inteiro, num ambiente de grande transparência. Onde a estrela verdadeira, aquela que brilha todas as noites sobre as nossas cabeças, faça chuva ou céu estrelado, é o vigor com que o cinema brasileiro se impõe, cada vez mais, pela qualidade das produções e pelo talento energético de seus realizadores.

Um comentário:

Anônimo disse...

Deve ter sido magnífico
:)

ah, já li o conto da Clarice.
Foi estranho,sabe...ainda bem que mo deste.Veio tirar muito "a limpo"a ideia que tinha da autora
;)

Beijo*