quinta-feira, outubro 09, 2008
Quatro anjos em um (ou "À Seita, com carinho")
Cada vez mais, a vida me confirma a crença de que ser fã é uma qualidade especial do espírito. Tem gente - como eu - que nasce com esse tipo de inclinação. Coisa que muita gente pode considerar "menor", "infantilidade" ou coisa que o valha. Há quem ache, inclusive, que quem tem natureza de fã não merece crédito.
Em defesa própria e também dos muitos fãs maravilhosos que conheço por este mundo afora, venho dizer que essas visões desfocadas não passam de preconceito. Eu, particularmente, gosto muito de ser fã - e de muita gente, entre famosos e anônimos, próximos ou não. Com o meu eterno prazer de encontrar personagens fabulosos pela vida, digo que o fato de ser fã só tem me ajudado a colecioná-los. E olha... eu garanto que a minha coleção tem preço. E não há leiloeiro no mundo que tenha o poder de arrematá-la!
Para minha felicidade, eu só faço aumentá-la. Na foto acima está Àngels, o anjo de verdade que acaba de valorizar imensamente o meu acervo de grandes personagens humanos. Àngels é especial em muitos sentidos, mas muito particularmente por ser, também ela, uma fã.
Foi a primeira a receber-me - e com que carinho! - no universo virtual de Lluís Llach, a lista ou fórum chamado Cafè Antic. Hoje estamos construindo uma bela amizade regada a música, idéias e embebida na sabedoria da resistência. Resistência, aliás, praticada com toda poesia pelo grupo de fãs mais afetuoso, animado, exacerbado e apaixonado que conheço: a placeta, como eles mesmos se definem, ou a Seita, como o próprio Llach carinhosamente os chama.
Freqüento a lista, dentro das minhas possibilidades e guardada a distância transcontinental. Participo também, quando posso. Já me vi envolvida em acaloradas e respeitosas polêmicas musicais, já me deliciei com os textos do incrível Gerard, já falei no msn com a Montse e troquei emails com vários integrantes. De Àngels, tenho me aproximado mais - talvez por termos em comum o universo do ferro e do aço, talvez por eu ter sido, em alguns momentos da vida, próxima de sindicatos operários, ramo em que ela milita com verdade e energia. Ou talvez, simplesmente, por Llach, e pronto.
Mudei com a lista. Resolvi aprender catalão e engrossar as fileiras do fortalecimento do idioma (embora ainda esteja bem no bê-a-bá). Entrei em vários mundos llachianos que enriquecem minha vida pessoal. Tenho conhecido mais profundamente a música extraordinária do grande artista que é Llach. Mas, sobretudo, aprendo intensamente, todos os dias, algo sobre a natureza humana.
Se quisermos de verdade, podemos ser iguais sendo diferentes. Se quisermos, deixamos de lado nacionalidade, idioma, cor, credo, crenças, tudo em nome da causa maior da nossa humanidade. Se quisermos, podemos encontrar pontos comuns com cada pessoa, por mais diferente de nós que ela possa parecer. Assim me sinto em relação a essa seita amorosa, verdadeira, firme, aberta e receptiva, musical, capaz de santas loucuras e de construir tanta felicidade.
Hoje vi muitas fotografias dos eventos familiares animadíssimos que organizam. Lá estão todos com suas mulheres, maridos, filhos. A criançada llachiana se diverte, curte com os pais, brinca, aproveita. A vida em família é mais um lado forte de ser fã. No caso da Seita, a família da música faz com que todas as famílias se encontrem, cantem juntas, lembrem do que é bom, esqueçam as tristezas e construam coisas bonitas.
Lá está Llach entre eles, rindo, posando para fotos, fazendo boas brincadeiras em momentos que deixam saudades, pois afinal o cantautor de Verges - ou simplesmente "o de Verges", como muitas vezes é chamado - deixou os palcos, mudou de vida e se dedica à música que se produz nos tonéis onde envelhece o cobiçado vinho Vall Llach, produzido em sua vinícola. Ou, uma vez por ano, entrega-se à direção artística da Procissão de Verges, inspiração de um dos belos temas do emblemático cd Verges 50.
Mas a placeta - ou seja, a pracinha do bairro, o lugar onde tudo acontece, segundo me explicou a incansável Àngels - não desiste. O amor pelas canções é incurável, o respeito pela decisão do artista uma lei entre eles. Fazem planos, preparam um disco, formam grupos, coros, trios, quartetos - reinventam sempre o espírito llachiano que os move. Cujo lema bem poderia ser, por exemplo, "per això, malgrat la boira, cal caminar", ou seja, seguir em frente apesar de tudo, como reza uma das letras mais emblemáticas de Lluís Llach, da canção Que tinguem sort.
Sorte mesmo tenho eu, de ter o privilégio de aprender com eles.
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