Tive um querido amigo, Carlos Alberto Löffler, que me ensinou a amar o poema “Resíduo”, de Carlos Drummond de Andrade, sobretudo por causa dessa estrofe. O poeta tinha toda razão: de tudo fica um pouco. Do que fazemos, do que geramos, do que desejamos, passamos sempre algo adiante pelos laços do amor ou do sangue.
É incrível como os laços da vida vão unindo as gerações, seja por um detalhe no rosto, uma expressão, um gesto - ou pela força dos dons e talentos que muitos grandes criadores estendem por seus filhos e netos. Se olhamos para Maria Rita, mesmo com a maior rejeição a rótulos, não podemos deixar de ver um pouco de Elis (bem, nesse caso, não tão pouco assim). Whitney Houston superou a mãe, a grande Cissy Houston de quem eu tanto gostava na juventude. Se de tudo fica um pouco, é bonito ver como essa tendência se confirma muitas vezes, no caso das artes e da música.
Em 1974-75 eu fazia intercâmbio nos Estados Unidos e interessei-me por suas fabulosas rock-baladas, que continham respingos de country e um mundo de blues. Comprei um disco de vinil com seus maiores sucessos, em cuja capa aparece o seu filho pequeno, brincando com o chapéu do pai. Nunca soube detalhes sobre a vida daquelas pessoas, mas guardei a música, a forte presença e a voz de Jim Croce em algum lugar do coração. E os anos se passaram.
Pois Adrian James, ou simplesmente A. J. Croce, hoje com 37 anos, é um talentosíssimo cantor, compositor e pianista, respeitado pelos melhores críticos e revistas especializadas de seu país.
Sim, de tudo fica um pouco. Herdou o talento, o nariz, a naturalidade e mais um ou outro gesto espontâneo. Pouco tempo depois da morte de Jim Croce, o pequeno Adrian James, com pouco mais de quatro anos, ficou completamente cego por causa de um tumor cerebral. Operado várias vezes, conseguiu aos poucos recuperar a visão de um dos olhos. Foi nesse período difícil que encontrou o piano e literalmente se amalgamou a ele.
Gosto de testemunhar essas verdadeiras “operações de resgate” do destino, que unem as almas, propagam o amor e dão voz aos talentos. A música de Jim Croce, que emocionou e até hoje emociona muitas pessoas, instalou-se na alma do filho e deu frutos ainda maiores, que sem dúvida devem surpreender o próprio Jim, onde quer que esteja.
P.S. – E não deixem de ler o poema Resíduo!
2 comentários:
carlos alberto loffler é meu avo q ja morreu infelismente se quizer falar dela para mijn escreva para loffler2008@yahoo.com.br
GOSTEI MUITO DO SEU COEMNTARIO...
É UMA VERDADE ...QUE BOM SE TODOS OS FILHOS FOSSE ASSIM...
RELEMBRAR COM CARINHO DO PAI OU DA MÃE...QUE JA SE FOI
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