Mestre Jamelão se despede em farto, amplo cortejo. Sob as palmas da platéia que se alonga nos quilômetros e quilômetros do adeus.
O samba sente muito. Mas é o povo que chora. O povo que não pensou duas vezes e foi em peso vê-lo passar pela última vez, interpretando como ninguém uma saudade profunda.
Jamelão saiu de cena como um rei, com a pompa e circunstância que mereceu e conquistou vida afora.
Houve um tempo em que já era tradição: duas semanas antes do Carnaval, as intrigas da oposição sempre espalhavam no Rio de Janeiro que Jamelão tinha morrido. Mas todo mundo sabia que era para enfraquecer a Mangueira. Imagino que ele risse da piada, pois no dia aprazado estava lá ele, com sua voz inconfundível, à frente da mais querida. Era Estandarte de Ouro na cabeça!
Sou o tipo de devota que aprendeu a sonhar com o ZiCartola que nunca viu, que ouvia Matriz e Filial com respeito e reverência - e que sempre chora quando a Velha Guarda entra na avenida com seus ternos de festa.
Com Jamelão não foi diferente: sempre o olhei como um desses seres superiores que detém o segredo de estar no coração do povo. Mas não como uma moda que é esquecida assim que sai de cartaz: Jamelão é pra sempre.
Por onde passou, o cortejo do grande mestre encontrou um olhar perdido, um surdo imaginário a soar compungido, uma cabeça baixa, uma lágrima, mãos em jeito de oração, o silêncio de alguém que saúda de dentro de uma tristeza tímida, sincera.
Há uns quatro anos, acho, tive a felicidade de assistir ao Desfile das Campeãs numa frisa. Minha amada Mangueira, segundo lugar naquele ano, estaria lá. Num dos intervalos, perambulando pela área do bar, pude vê-lo. Pequenino dentro do terno rosa e amparado por dois ou três guardiães da Escola, brilhava com uma força tremenda. Não pude evitar o nó na garganta.
Jamelão, um símbolo e uma voz, já faz muita falta. Mas sei que há de refulgir sempre sobre a Sapucaí, no céu do Carnaval. Não uma estrela, constelação. Não um puxador, um intérprete, como sempre fez questão de dizer. Não um sambista, mas o próprio samba.
Nenhum comentário:
Postar um comentário