Acabo de dirigir, com a amiga Cleide Salgado, um festival de cinema. O I CINEMÚSICA - que já em sua primeira edição chega com a responsabilidade de ser o primeiro festival do Brasil voltado para as áreas de som e música - colocou a bucólica Conservatória, no Estado do Rio, em polvorosa. Durante o feriadão (6 a 9 de setembro), o número de pessoas na cidade foi muito além do esperado para uma localidade que vive do fluxo turístico normal gerado pela serenata, com direito a pane nos restaurantes locais - que, mesmo acostumados a feriados movimentados, não conseguiram dar conta dessa vez. Ao todo, 20 longas e 24 curtas passaram pelas telas do Cine-SESC (na Praça da Matriz), do Cine-Tela Brasil (no largo da Rodoviária) e do Cine Centímetro (uma perfeita miniatura do falecido Metro-Tijuca, com apenas 60 lugares). Tudo o que o cinema fez em Conservatória tinha alguma coisa a ver com a música, de modo que... o nome CINEMÚSICA! foi a escolha mais natural do mundo. De quebra, os shows incríveis dos grupos Vale dos Tambores, Panela di Barro, Música DesConcerto e, no domingo, da Orquestra Sinfônica do Projeto Música nas Escolas, de Barra Mansa.
Num dos raros momentos em que consegui sentar para assistir alguma coisa, ganhei logo o melhor presente: Edu Lobo, documento inédito, direção de Regina Zappa. A diretora, jornalista mais que conhecida e reconhecida, é casada com um grande amigo meu, o arquiteto e designer Túlio Mariante. E o nosso encontro, ainda que há muito prometido, só veio a acontecer em Conservatória.
Confesso meus engasgos enormes durante o filme. As hábeis e sutis escolhas de Regina para registrar a vida e obra desse gênio algo injustiçado da nossa música velejaram por entre lembranças muito queridas, que acabaram mesmo por me marejar. Uma voz e um violão para Cordão da Saideira, recortes em clima de festival para o apogeu de Ponteio, com Marília Medalha, a verdadeira história da agonia de Torquato Neto refletida na letra, em parceria, de Pra dizer Adeus...
Edu, ainda um menino quase, em muitos momentos; em outros, cada vez mais parecido com o pai, Fernando Lobo, que ainda conheci nos últimos tempos de TVE. Edu e sua imensa musicalidade, sua enorme parte na história da música brasileira da geração imediatamente anterior à minha, e que acabou por misturar-se à minha. Edu com seu inconformismo na ponta das letras e no fundo da melodia, com seu jeito de bom moço levando a sério o que era para levar. E Edu hoje, com a mesma profundidade e o mesmo talento, filhos, discos, livros, amigos.
Regina soube contá-lo, registrá-lo, transparecê-lo bem para quem, pela pouca idade ou o muito descuido, não teve a chance certa de o conhecer. Vê-se em sua direção o pulso jornalístico que no entanto deixa a emoção sobrenadar, conduzir a narrativa e confluir para belos reencontros, com a atualidade necessária para contar o que deve ser contado sem cair em excessos ou embotar a verdade básica do que a obra de Edu Lobo representa, dentro da nossa música.
Edu Lobo foi uma grande felicidade dentro da correria do I CINEMÚSICA. Além de nos prestigiar com uma estréia nacional, Regina Zappa foi mais do que justa com o biografado. Foi justa e generosa com a música do Brasil e com as gerações e gerações de brasileiros que necessitam desesperadamente de conhecê-la em profundidade, para dar-lhe o devido valor.
Me lembro tanto e é tão grande a saudade, que até parece verdade que o tempo inda pode voltar... O tempo de Regina Zappa em Edu Lobo não só volta na medida certa como sabe seguir em frente, com rumo certo e passo forte, para celebrar o que Edu Lobo, hoje e sempre, tem de melhor.
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