Hoje me estranhei comigo mesma. Isso há tempos que não me acontecia, e confesso que não estava lá muito preparada para passar o dia com um certo incômodo na área do estômago, a avisar-me que as coisas não andavam bem.
É difícil desculpar-se consigo mesmo, justificar-se diante da própria alma, dar explicações com o ego olhando pra nossa cara. Até porque, ia adiantar o quê mesmo? Aos olhos interiores, tudo é transparente. O malfeito é malfeito, o descuido é descuido mesmo, de nada servem palavras bonitas. A alma se desloca, o sentimento de inadequação penetra-lhe os poros cansados.
Fiz bobagem, sim. Precipitei-me em terrenos que não adivinhava movediços - e de repente vi-me tocando sem autorização o intocável: os sentimentos alheios. É ruim olhar e ver que, de fato, "foi mal", como diz a geração da minha filha. É difícil e sem jeito - e nem há como despistar. Pra quê, pra quem? O jeito é olhar de frente para a dor e o desconforto, a incapacidade, o gesto infeliz, a coisa errada no momento errado, atingindo o alvo errado. Ainda que o passo não tenha sido bem avaliado, o que importa é mesmo o resultado, não?
Contabilizei resultados ruins hoje. Reversíveis, possivelmente, mas ruins. Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, disse uma vez Chico Buarque; mas tem dias que a gente age como quem quebrou porcelana rara. E nessas horas é que é difícil consertar.
Sinto-me assim, hoje; falei antes de pensar, fui com muita força na curva e o retorno ficou prejudicado. Reconheci, desculpei-me, mas sinto-me mal. O estômago ainda anda oprimido. O desconforto não me abandonou.
Mas a reflexão é útil; é bom saber o erro bem visível, por mais que incomode. É bom saber que, mesmo quando se erra, a meta é não errar, e esta persiste. É bom saber que, em meio a tantos estímulos a nos cegarem os sentidos, ainda podemos enxergar, com toda clareza e verdade, a parcela de responsabilidade que nos cabe por cada palavra que sai da nossa boca, por cada gesto canhestro e mal calculado. Alguém com certeza será atingido - e os resultados podem ser imprevisíveis.
De frente para mim mesma, encaro o espelho da alma. Está mais do que na hora de comprometer-me com a minha própria humanidade.
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