(da série "Tratado das Letras de Parati", sobre a Mesa 2 - Coro dos contrários)
Poema nem de longe inunda a sala,
resvala com algum escândalo
por espaço mínimo,
senta-se para conversar,
mas sem muito ânimo.
Muitos esperam, suspiram
e até conspiram,
mas poema quer nem saber.
Um aplauso mediado se anuncia
mas não eclode,
enquanto a voz do cais
fala em referências.
(Não ouço a música das palavras
no espaço suspenso
onde agora poderiam brincar.)
A moça loura com olhos de boneca
se esvai
pretenso jogo de desdém
e encolhe o verso.
Apenas resta
um bravo navegante
a singrar ventos de Macau
com música, música, sim,
de palavras! Que começam
a chegar de roldão,
e belas, e cheias,
e plenas, enfim,
ocupando o tempo
como vastos véus
de algodão recém-tecido.
(Poema abre um olho só,
mas fecha depressa
e se recosta,
fingindo dormir.)
No espaço escorrido
do tempo quase frustrado
as palavras não se vestem
da festa pretentida.
Poema talvez desejasse voar,
mas de que jeito?
Melhor puxar a cortina,
se houvesse uma,
e dançar
nas pedras da rua.
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